15 de março de 2007

trabalho de investigação

Introdução:

O trabalho apresentado insere-se no âmbito da cadeira de Metodologia e Hermenêutica, leccionada ao primeiro ano de ciências da comunicação, na Universidade da Beira Interior.

O grupo de trabalho propôs-se a realizar um estudo no campo das ciências da comunicação. Investigámos e elaborámos, assim, uma tese com a finalidade de descobrir os motivos que levam os leitores de jornais a escolherem uma notícia padrão1, denominada daqui em diante como notícia, O título ou a imagem? E o porquê dessa escolha.

Neste sentido, o nosso estudo recaiu sobre a população da cidade da Covilhã. População essa, mais idosa e com uma menor taxa de alfabetização, comparada com outros grandes centros da sua periferia. Contudo os resultados obtidos podem-se generalizar a uma população mais extensa, como se poderá ver adiante.

O nosso trabalho visa apresentar um novo contributo na área referida, visto que existe um inúmero de trabalhos já realizados que apenas focam, como estudo, ou imagem ou o título, sendo raro o que apresente um «frente-a-frente» destes dois ícones jornalísticos. E que desse estudo se perceba, realmente, qual deles se torna indispensável ao leitor, para que este possa eleger de forma pessoal a notícia a ler.

Os resultados obtidos mostram que os leitores optam por ler uma determinada notícia mais devido ao seu título, do que a imagem que a acompanha.

Estes resultados podem ser explicados, entre outros, no campo da semiótica e da psicologia.

A opção de desenvolver o estudo a partir, fundamentalmente, destas áreas justifica-se visto o trabalho reflectir a percepção do leitor, enquanto Homem, às imagens, signos e símbolos. Esta matéria é explicada, sobretudo, na área da Semiótica isto é, a imagem, signos, símbolos, etc. E da psicologia na área da percepção (processo psicofisiológico por meio do qual o sujeito transforma as diversas impressões sensoriais «estímulos exteriores» em objectos conhecidos. Trata-se de um processo de apreensão da realidade), do homem (enquanto objecto de estudo), captação, visualização e personalidade.
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1Entenda-se por notícia padrão, uma notícia de jornal, apresentada a preto e branco, acompanhada de título e foto igualmente a preto e branco.

Nesta abordagem intensiva recorremos a livros de referência, assim como a algumas pessoas especializadas na área em questão, como é o exemplo da professora Luísa Fernandes, licenciada em Psicologia e a Alexandre Silva, licenciado em Ciências da Comunicação e jornalista do “Notícias da Covilhã”.

Estudámos, assim, estes dois campos para perceber quais os motivos que levam o leitor a focar primeiramente o título para seleccionar uma notícia. E quais é que actuam sobre o leitor para que este não se interesse tanto pela imagem como factor de escolha.

Como método de investigação recorremos aos inquéritos por questionário. Questionários esses de administração indirecta, constituídos por perguntas fechadas. De salientar que das três questões apresentadas, duas eram de despistagem. As questões eram simples, directas, objectivas e, sobretudo, adaptadas aos inquiridos2.

Antes da apresentação do questionário, os inquiridos eram confrontados com duas notícias3 (uma com título e sem imagem, outra com imagem e desprovida de título). Destas duas notícias os leitores/inquiridos eram convidados a optar por uma.

Escolhemos três notícias com temas diferenciados: acidentes, sociedade e medicina. Concluímos que a apresentação de notícias com temas diferenciados seria uma vantagem, pois os resultados seriam mais verdadeiros e fiáveis.

A estrutura do trabalho será construída em quatro momentos: o primeiro esclarece o tema do trabalho. O segundo apresentará um breve histórico dos livros e pessoas contactadas para a realização do mesmo. O terceiro abordará a metodologia utilizada para alcançar os resultados em torno dos objectivos pretendidos neste trabalho. No quarto analisaremos os dados, isto é, os resultados obtidos.

Por último, teremos a conclusão do trabalho, onde serão explicitados e esclarecidos os resultados obtidos e nomeados no momento anterior.







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2ver anexos
3ver anexos
1.
O que é que já foi dito?



1.1 – A Imagem

A imagem é um elemento primordial de estudo. É um tema interdisciplinar que se encontra no âmbito de muitas áreas profissionais e pessoais como por exemplo: moda, multimédia, no dia-a-dia e na comunicação social.

É nesta última área, mais precisamente no campo das notícias de jornais, que nos interessa perceber este labirinto de pontos geométricos, cores, ângulos, que é a imagem. A fotografia de imprensa, em maior número que o texto escrito, aparece com uma grande força de objectividade. Se uma informação escrita pode omitir ou deformar a verdade de uma situação, a fotografia aparece como um testemunho fidedigno e transparente do acontecimento. Veremos, no entanto, que esta situação não é tão linear como se pode julgar à primeira vista. Sendo o objectivo da câmara mecânico, aparentemente estará anulada qualquer actividade emotiva e subjectiva, mas, ”ironicamente são essas mesmas possibilidades da câmara que permitem um grande espaço de manobra para a distorção dos efeitos visuais sobre os objectos reais”1.

Várias técnicas são utilizadas (na fotografia, mas também na elaboração dos títulos) e têm por finalidade tornar a notícia perceptível ao leitor. Entramos assim, no mundo da fotografia e da sua percepção.

A máquina fotográfica é um objecto privilegiado para produzir sentido e dar assim significado às coisas, é também um instrumento semiótico, como a palavra e a escrita. A fotografia de imprensa pode ainda ser posta em causa por outra razão, as estruturas psicológicas do leitor. Estas estruturas revelam-nos que a realidade das coisas “não é vista se não as percebermos, a percepção é um processo criativo. O acto fotográfico, como o acto perceptivo, são criativos e na leitura de uma fotografia jornalística ambos se inter – relacionam intrinsecamente. A fotografia actua em nós a nível psíquico e grande parte do que sabemos e apreendemos do nosso mundo se deve a ela.”2 Contudo, segundo o autor, “A interpretação do leitor sobre a imagem não é um fenómeno puramente perceptivo; também supõe
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1VILCHES, Lorenzo. Teoría de la imagen periodística, Barcelona: Editorial Paidós, p. 65
2VILCHES, Lorenzo. Teoría de la imagen periodística, Barcelona: Editorial Paidós, p. 92
uma competência linguística. Isto quer dizer que o acto de interpretação visual se realiza através da actualização por parte do leitor de uma competência verbal”3.

A interpretação consiste, na busca de uma organização mais geral e global que permita ao leitor compor e completar uma cena á falta de mais detalhes visuais. Deste modo, o leitor pode atribuir um «fora de campo» invisível de uma cena ideal, da qual vê só um pouco. Encontramos significado, somente em imagens que já conhecemos, pois frente a imagens desconhecidas, estas não nos representa nada. A imagem, não é mais do que um “retrato mental de algo, um conceito”, ou até mesmo “algo perdido no inconsciente”4

As expectativas do leitor são outro aspecto a ter em conta. A fotografia na imprensa não é imparcial, funciona como meio de transmitir uma intenção por parte do jornalista. Esta tese é corroborada por Jonathan Bignell5. Sobre este assunto Vilches escreve que “a informação visual, portanto, transforma-se assim, numa clara figura retórica do tipo paradoxal. A relação conflituosa entre o texto escrito e visual (fotografia) suscita a curiosidade do leitor ao introduzir um actuante «estranho» na informação, que realiza a função de uma opinião implícita que não coincide com o significado que se espera do texto escrito”6.

As notícias escritas, assim como as fotografias, organizam-se estruturalmente segundo a importância dos géneros da informação e só depois segundo a importância do acontecimento, sendo assim o leitor educado a buscar o género e não a notícia. Tanto as notícias como as fotografias se organizam em função das expectativas do leitor. O conteúdo da fotografia tende a representar-se de forma espectacular através da utilização de efeitos. O conteúdo fotográfico corresponde a certas expectativas do leitor que se referem especialmente a aspectos da actividade cognitiva de cada leitor e não à realidade da notícia que representa. Assim, o modelo ideal que o leitor desenvolve frente à imagem corresponde ao aspecto psíquico dentro do qual se desenrola a compreensão e adesão a tal texto ou imagem.

A fotografia de imprensa, independentemente da sua objectividade e grau de manipulação, pode incrementar "o saber do

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3VILCHES, Lorenzo. Teoría de la imagen periodística, Barcelona: Editorial Paidós, p. 92
4DANESI, Daniel, Encyclopedic Dictionary of Semiotics, Media, and Communications, University of Toronto; University of Toronto Press, 2000. p. 117
5BIGNELL, Jonathan; Media Semiotics – An Introduction, Manchester University Press, 1997, p.98
6VILCHES, Lorenzo. Teoría de la imagen periodística, Barcelona: Editorial Paidós, p. 93
leitor" através de um contínuo processo de aprendizagem que representa a leitura activa A elaboração das competências próprias do leitor realiza-se através de três processos: “interpretação” (o qual já abordamos anteriormente), "compreensão" e "estratégia de leitura".

A compreensão realiza-se principalmente através do "reconhecimento" por meio de unidades discretas e pertinentes como, distinguir e identificar certos aspectos numa fotografia. A estratégia de leitura pressupõe que o leitor necessita de elementos indispensáveis para levar adiante o seu jogo comunicativo, são estes elementos o "marco referencial" e a "situação comunicativa". O marco referencial estabelece o objecto no qual se baseia a comunicação visual e a situação comunicativa ao contexto que originou a comunicação, de maneira que o leitor, frente à limitação das competências anteriores, exija que se proporcionem outros dados para poder completar o seu processo cognitivo e é aí que pode entrar a funcionalidade do texto ou da legenda de apoio.


1.2 – O Título

O título, por sua vez, não é de todo, um ponto de estudo de tão grande escala como a imagem. Contudo, o título é «o lugar privilegiado do acontecimento». “O título condensa o conteúdo dominante de uma informação, servindo para atrair a atenção do leitor. Há-de ser concreto, inequívoco e sugestivo, mas isento de qualquer veleidade sensacionalista”6. É também o primeiro indicador do «valor» duma informação, o qual não provém apenas da originalidade do seu conteúdo, mas, sobretudo, do facto de o jornal o reter como informação.

No jornal, o título indica duas coisas: informa sobre um assunto e mostra que informa. Para isso tem que ser construído de modo a poder atrair a atenção e ao mesmo tempo, dar informação. Informação, essa, transmitida de uma forma mais complexa, não se trata de fazer o leitor perceber, à partida, toda a notícia mas de um jogo de palavras que despertarão a atenção dos que o leiam. “O propósito do título é duplo: atrair a atenção para a informação e dá-la da forma mais complexa possível, a fim de que os leitores se dêem conta da notícia com uma simples vista de olhos. Dado que a entrada resume toda a notícia, o título obtém-se, no geral, desta parte da notícia. Na realidade, o título é uma entrada abreviada, em palavras vigorosas e interessantes.” 7

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6ALVES, Dinis Manuel; Foi você que pediu um bom título?, Coimbra, Quarteto Editora. 2003
Nem todas as pessoas estão à partida preparadas para fazer tal jogo mental, daí o surgimento de dificuldades, principalmente com as pessoas mais idosas e menos formadas.

É nesta, frase tipograficamente composta em letras grandes, que se encontra todo um resumo da notícia desenvolvida mais a baixo. O título tem como objectivo orientar o leitor de modo a que este se aperceba da realidade da notícia, mas também, como frisa Douglas, “despertar o interesse do leitor”9.

Se na imagem, a captação desta dependia sobretudo do observador, no título tal não acontece, desde que este seja um bom título. Desde que a qualidade do título não seja colocada em causa, este deverá conseguir ser um atractivo para qualquer leitor quaisquer que sejam os particulares interesses, gostos e hábitos de cada um.

“Um bom título faz com que o leitor leia pelo menos até ao final do primeiro parágrafo.”10

A sua localização na folha tem de estar em concordância com o texto. Um bom layout, pode ser o factor primordial para a captação do interesse do leitor.



















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7ALVES, Dinis Manuel; Foi você que pediu um bom título?, Coimbra, Quarteto Editora. 2003, p.12
8ALVES, Dinis Manuel; Foi você que pediu um bom título?, Coimbra, Quarteto Editora. 2003, p.13
9ALVES, Dinis Manuel; Foi você que pediu um bom título?, Coimbra, Quarteto Editora. 2003, p.15
10Alexandre Silva, jornalista, Diário da Covilhã
2.
O trabalho realizado

Foi feita a revisão da literatura, assim como algumas entrevistas exploratórias para nos aperceber-mos do que já havia sido feito e do que poderíamos esperar do trabalho. Com esse objectivo pesquisámos livros em bibliotecas e apoiámo-nos em textos disponíveis on-line1.

As entrevistas exploratórias, como já referido, foram feitas a licenciados na área da comunicação e da sociologia.

Primeiramente dirigimo-nos ao Notícias da Covilhã afim de saber se os responsáveis pela elaboração do layout, assim como os jornalistas tinham a consciência da forma como o leitor encara a notícia. Quisemos saber de que modo era preparada a notícia, e se havia um cuidado especial na escolha da foto que ilustra a notícia. Neste ponto ficámos esclarecidos visto os responsáveis pela edição do jornal terem uma visão prática da realidade covilhanense e poderem afirmar, na realidade cultural desta cidade, que o título é mais importante do que a imagem. Existindo assim um maior cuidado no tratamento do título, do que com a imagem.

“Para a população da Covilhã, visto ser uma população mais idosa, temos de ter maior cuidado com os títulos que escolhemos. Apostamos num título mais informativo e menos ambíguo em vez dos títulos incitativos, que exigem um maior exercício mental. Um bom título leva o leitor a ler pelo menos até ao primeiro parágrafo”2

Contudo, acrescenta que uma boa imagem é sempre importante, principalmente quando o assunto de que se fala é mais conhecido pelo público. Como é o caso das corridas de carros, onde a imagem da notícia sobrevaloriza-se ao título.

De seguida, elaborámos uma pequena entrevista para fazer a Luísa Fernandes, a já referenciada professora de psicologia. Conseguimos então perceber que no campo da psicologia o título encontra-se num patamar mais elevado, em termos de percepção, do que a imagem.

O indivíduo tem tendência para organizar todas as percepções segundo dois planos: o da figura, elemento central que capta o essencial da atenção, e o fundo, pouco diferenciado. Este princípio, que se apoia no efeito de contraste, é correctamente utilizado nos tí –

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1Ver bibliografia
2Alexandre Silva, jornalista, Diário da Covilhã

tulos dos jornais, usando letras “garrafais” para as notícias de relevo, realçando a sua importância, e captando a atenção do leitor. Dentro da percepção não podemos deixar de falar da atenção, isto é, capacidade de focalização e selecção de estímulos, estabelecendo relações entres eles.

Com base nas informações obtidas trabalhámos 3 notícias de modo a que as pudéssemos apresentar aos inquiridos conforme explicitado na introdução desta investigação.

Realizámos posteriormente os inquéritos à população da Covilhã. Estes eram compostos por perguntas quase todas de escolha múltipla em que se pretendia saber se os entrevistados eram leitores assíduos de jornais, pois era um factor determinante na escolha dos indivíduos a entrevistar.

De acordo, com os seis elementos do grupo ficou estabelecido que a investigação seria feita apenas dentro da cidade da Covilhã. Deliberou-se, ainda, uma faixa etária para os inquiridos entre os 18 e os 70 anos.

Pedia-se ao entrevistado que escolhe-se entre duas notícias idênticas, como já explicado, uma apenas com título, a segunda apenas com imagem, para determinar qual dos ícones tinha sido valorizado na selecção da notícia.

Seguidamente realizavam-se os questionários. Como já referenciado anteriormente existia nos inquéritos perguntas de despistagem que tinham como objectivo desviar a atenção do entrevistado do objecto fundamental do nosso estudo e tentar que não relacionasse a escolha da notícia, anteriormente feita pelo próprio, com a última questão do questionário: Numa notícia de Jornal, dá mais importância à imagem que a acompanha ou ao seu título?

De notar que sempre que o grupo de trabalho se apercebia que as perguntas de despistagens não tinham surtido efeito, o questionário seria automaticamente anulado.

Em termos problemáticos encontrámo-nos perante uma constante bifurcação de hipóteses. Restringimo-nos à nossa questão inicial: “O que leva um leitor a escolher uma notícia num jornal? O título ou a imagem?”. Neste aspecto quisemos perceber se a resposta dos inquiridos correspondia, na realidade, às suas acções enquanto leitor. Deparámo-nos assim com as seguintes hipóteses: o inquirido escolher a notícia com a imagem e responder que pensa que o título é o ícone que lhe desperta maior atenção na selecção da notícia, ou vice-versa. E ainda, o entrevistado escolher a notícia com a imagem ou com o título, e responder consoante a sua escolha anterior à última pergunta do questionário.

Que é o que realmente tentámos perceber. É de recordar que os nossos resultados restringem-se à amostra em estudo, à população da Covilhã.

Para a realização dos questionários o grupo de trabalho dividiu-se por 4 partes distintas da cidade, para que os resultados não fossem adulterados por factores geográficos, sociais e/ou económicos.

Depois da realização dos referidos inquéritos iniciámos a contagem dos mesmos. Dividindo os resultados em dois patamares:

O primeiro, referente à resposta dos inquiridos à terceira pergunta do questionário. Como é óbvio os resultados foram examinados de forma quantitativa.

O segundo, ao nível de contradição. Isto é, contabilizámos os inquéritos em que a pergunta três e a escolha da notícia não correspondiam.

3.
Análise dos dados

Finalizada a contagem dos 150 questionários divididos por três notícias diferenciadas, deparámo-nos com os seguintes valores:

Notícia: ”Duas rodas com 300 mortos”, 69% dos inquiridos responderam que o título é o ícone que lhe chama mais à atenção, contra 31% que responderam que era a imagem. Contudo, 40,63% dos entrevistados contradisseram-se.

Na notícia “Vacina eficaz previne cancro”, 72% dos inquiridos responderam que o título era o factor de escolha, contra 28%. Neste caso houve apenas um nível de contradição na ordem dos 31%.

Por ultimo, na “Milhares de mães na rua”, os resultados não se alteraram. 53% reponderam o título e 47% a imagem. Com o nível de contradição a rondar os 13,45%.


A nível geral, 65% da população inquirida interessa-se mais pelo título, e apenas 35% pela imagem

Globalmente, apenas 25% dos inquiridos se contradisseram.

Confirma-se assim, que o titulo é mais sugestivo que a imagem, e que a maioria dos leitores têm essa noção.








Conclusão

Após a análise dos dados e terminado o trabalho de investigação, com base na pergunta de partida “O que é que capta maior atenção do leitor numa notícia? O seu título ou a sua imagem? Porquê?”, pudemos tirar algumas conclusões:

As notícias em que os leitores têm conhecimento de causa, isto é, conseguem imaginar a situação ou por já a viveram ou porque já viram alguém passar por algo idêntico, como no caso dos acidentes, manifestações outros acontecimentos públicos e generalizados, dão mais de atenção à imagem. Isto, porque confiam na imagem e sabem que esta retrata uma realidade conhecida, neste caso o nível de confiança na ilustração sobe. Contudo, o título é sempre o factor número um na escolha das notícias.

Esta situação explica-se devido as relações entre o indivíduo e o mundo. Tudo que o rodeia é assim regido pelo mecanismo perceptivo e todo o conhecimento é necessariamente adquirido através da percepção. As estruturas que possibilitam a percepção são assim resultado de uma interacção entre o sujeito e o meio.

A percepção é selectiva, sendo esta determinada pelo que o individuo deseja e pela importância que lhe dá.

A todo o instante recebemos estímulos, provenientes das mais diversas fontes, porém só atendemos a alguns deles, pois não seria possível e necessário responder a todos. Além da atenção concentrada, em que se selecciona e processa apenas um estímulo, também pode existir atenção dividida, em que são seleccionados e processados diversos estímulos simultaneamente, por exemplo quando lemos um jornal podemos estar a ler o texto e simultaneamente a recordar a imagem que o acompanha, assim a atenção esta dividida entre a noticia e a sua imagem. Prestamos tanta mais atenção num objecto quanto mais ele nos interessa, o interesse depende das inclinações, das tendências inatas de cada individuo.

Este factor depende, mais uma vez, da confiança que o leitor tiver no objecto. Podemos afirmar assim que o título é mais credível que a imagem, pois esta pode ser um falso espelho da realidade. O título torna-se assim, um elemento fundamental na selecção de uma notícia visto que representa para o leitor algo verdadeiro e real, ao contrário da imagem que pode muitas vezes induzir em erro e não representar a mesma realidade, mesmo sendo de esperar que seja considerada uma representação credível dessa mesma realidade.

Podemos assim dizer que a atenção não é mais do que um processo de observação selectiva. Deste modo, são vários os factores que influenciam a atenção e que se encontram agrupados em duas categorias: a dos factores externos (próprios do meio ambiente) e a dos factores internos (próprios do nosso organismo).

Os factores externos mais importantes da atenção são a intensidade, pois a nossa atenção é particularmente despertada por estímulos que se apresentam com grande intensidade e, é por isso, que os títulos dos jornais são apresentados aos leitores com letras bastante grandes, e por vezes acompanhados de imagens; o contraste, a atenção será muito mais despertada quanto mais contraste existir entre as estimulações, tal como acontece com os títulos dos jornais, que aparecem muitas das vezes pintados com cores vivas e contrastantes.

Os factores internos que mais influenciam a atenção são a motivação, prestamos muito mais atenção a tudo que nos motiva e nos dá prazer do que às coisas que não nos interessam; a experiência anterior ou, por outras palavras, a força do hábito faz com que prestemos mais atenção ao que já conhecemos e entendemos; e o fenómeno social, que explica, que a nossa natureza social faz com que pessoas de contextos sociais diferentes não prestem igual atenção aos mesmos objectos, por exemplo, os jornais a que se dá mais importância em Portugal não despertam a mesma atenção no Japão.

E assim, através da percepção, sobretudo da atenção, podemos explicar psicologicamente e através da semiótica a capacidade do leitor optar entre o título de uma notícia e a sua imagem, dependendo de leitor para leitor, como já referimos anteriormente, conforme os seus desejos, interesses, motivações, experiências anteriores ou força do habito e fenómenos sócias. Contudo o título é sempre o factor de escolha número um.












Bibliografia



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Danesi, Marcel; Encyclopedic Dictionary of Semiotics, Media, and Communications, Canada, University of Toronto Press, 2000

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Sousa, Jorge Pedro; As notícias e os seus efeitos, Edições MinervaCoimbra, Coimbra. 2000


Vilches, Lorenzo.Teoría de la imagen periodística, Barcelona: Editorial Paidós 1987




Por:


João Pereira
Ana Sofia
Catarina Milheiro
Igor Dimitri
Cátia Gaspar
Cláudia Pina

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