15 de março de 2007

O Padrinho - tentativa de analise


Analise ao filme “O Padrinho”

O filme em questão encontra-se extremamente bem estruturado e dividido, mostrando uma extensa rede de hábitos, costumes e rituais. Muitos destes partindo do poder da palavra. Qualquer pedido feito ao Padrinho tinha de obedecer a um ritual linguístico.caso não existisse tal ritual o pedido não seria aceite.
A parte pragmática e sintagmática do filme mistura-se de tal forma que o espectador deixa de perceber o que é real do que não é, do que está explícito na história do que está camuflado. Apercebemo-nos de imediato da quantidade enorme de sinais que demarcam o grupo mafioso italiano de outros personagens não italianos ou não mafiosos. A caracterização do “padrinho” ronda o limiar da perfeição. A voz, o vestuário e a maneira de ser agem em conformidade com o padrão a que nós relacionamos com os chefes da máfia italiana.
A obra é carregada de simbolismos, começando nos costumes dos membros da família, passando pelo respeito que estes têm pelo chefe, aos actos e atitudes, tudo nos remete para um plano mais distante, para um segundo plano para novos significados.
O filme é uma constante de quadros semióticos. Todas as acções (de vingança ou outras) que as personagens realizam têm consequências para elas próprias e para terceiros. Contrapondo-se pela possibilidade de não terem realizado essas mesmas acções.
A música assim como o guarda-roupa, são tudo pontos a favor desta película. Todos estes símbolos estão de acordo com o plano geo-temporal pretendido. Estes elementos são fundamentais na ligação da história com o espectador. Se um destes dados não correspondesse com a ideia preconcebida que o observador do filme tem sobre o tema desenvolvido vai existir uma quebra de confiança e um desinteresse por parte deste na história.
A cena que demonstra grande parte dos aspectos fundamentais do filme sem duvida que é a do casamento. É aqui que nos apercebemos da cultura das personagens dos seus rituais, diferenciamos os italianos dos nativos (Kay), reparamos numa americanização de Michael que tenta fugir as teias e rituais da família, etc. Contudo, mais tarde vemos que devido à tentativa de assassinato de seu pai este personagem acaba por trazer ao de cima a verdadeira chama da família.
A linguagem usada, assim como os dois idiomas explorados vieram dar uma maior consistência ao enredo. Seria anormal um italiano falar na perfeição o inglês (AmE).
Nesta obra cinematográfica conseguimos, com alguma atenção, começar a desvendar as consequências dos actos das personagens muito antes destes terem lugar. Pois, sabemos que não haverá espaço para atitudes novas, apenas a repetição de actos já anteriormente realizados.
As passagens de tempo que são inserida no filme estão disfarçadas e apenas se podem encontra través de pequenos sinais como por exemplo o crescimento do bebé, do deslocamento de Dom Corleone do hospital para casa, muito adoentado, para uma situação em que já se encontra em período de convalescença, etc.
Neste filme as próprias personagens utilizam a percepção de símbolos para pararem conspiradores e conspirações.
Em termos de simbolismo, a morte de Don Vito Corleone talvez seja uma das cenas mais repletas de significado. O facto de este ter sucumbido numa plantação de tomates, remete-nos para o mediterrâneo, nomeadamente para a Itália. Don Corleone é como se tivesse falecido no seu próprio país. No seguimento da “queda” do Padrinho vemos o seu neto (o Futuro) a nascer, a largar o passado e a correr para um rumo ainda desconhecido. Temos assim, o nascer de uma nova geração que, de qualquer forma, vai assentar a estrutura nos rituais familiares. Não existe inovação, apenas a repetição constante dos rituais.

João Pereira

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