20 de junho de 2007

"Onde mora a fotografia hoje"











1 - Introdução
1.1 - A Manipulação da Fotografia no séc. XX

Este trabalho insere-se na cadeira de Fotografia leccionada na Universidade da Beira Interior no segundo semestre lectivo do ano escolar de 2006/2007.
O referido trabalho vai incidir sobre a fotografia, mais concretamente a sua modificação/adulteração, no século XX em contraste com o início do século XXI.
O início do século XX foi a porta de entrada para uma rajada de ar fresco no que toca à fotografia. A fotografia deixa de aparecer como um acto literal da captação do real, que muitos acreditavam ser o único e possível objectivo da fotografia. Começa a existir uma fuga ao ideal estético modernista.
Procura-se enquadrar a fotografia como uma linguagem, existe uma procura da difusão do acto fotográfico através de uma nova linguagem.
Entramos, assim, na manipulação da imagem abandonando a mera percepção visual tentando alcançar um código visual sugestivo de novos estados de consciência tal como o Surrealismo, Dadaísmo, Futurismo e Abstraccionismo.
Deixa-se ver a fotografia apenas como um espelho da realidade como nós a vemos, para se iniciar uma nova forma de mostrar a realidade. Estranha num primeiro olhar, mas que não deixa de espelhar a realidade, agora não a partir dos nossos olhos, mas a partir da visão do fotógrafo.
A fotografia começa a ser tomada como uma forma de arte. E muitos artistas começaram a olhar a fotografia como um quadro do real que poderia ser alterado de modo a passar uma ideia sobre esse mesmo real.
A arte de fotografar e de modificar a imagem vai evoluindo, e os trabalhos começam cada vez mais a representar as sociedades.
Mas, nunca perde (a fotografia) o objectivo de mostrar o mundo através de um rectângulo mágico. Bill Brandt com Belgravia e Campden Hill expõe a possibilidade de ver as coisas num determinado ângulo em detrimento de outro de modo a obtermos uma percepção completamente divergente que teriam se a víssemos de uma maneira tradicional. O mundo é-nos mostrado de uma forma tão distinta daquela a que estamos habituados que a nossa compreensão dos trabalhos tornasse extremamente complicada. De lembrar que Brandt faleceu em 1983, e que esta fotografia é de 1951. Percebemo-nos da intenção, não só deste, mas de quase todos os fotógrafos deste século em não mostrar a realidade de “mão beijada”, mas obrigar o “leitor” da foto a pensar. O que se veio a perder como veremos mais adiante.
A fotografia, assim como qualquer outro tipo de arte, vai de encontro às correntes sociais e artísticas do meio onde estão inseridas.
Muito devido ao avanço tecnológico, ao aparecimento da fotografia digital mas também à entrada numa sociedade de consumo, a fotografia veio tomar uma importância diferente daquela que tinha vindo a ter ao longo dos tempos.



1.2 - A Manipulação da Fotografia no início do séc. XXI

Sou obrigado a ter, agora, a preocupação em distinguir “modificação da fotografia” com “adulteração da fotografia”. Designa-se modificação da fotografia à alteração de uma foto original de modo a dar-lhe artístico, humorístico ou outro, a pessoa que vê a fotografia tem de saber de imediato que imagem que vê não é original e que através de algum processo sofreu uma modificação. Sempre que esta modificação não esteja visível, explícita ou em último caso, o indivíduo que a visualiza não seja informado da alteração da realidade, aí falamos de adulteração.
Não quero com isto dizer que a adulteração fotográfica tenha aparecido neste período. Contudo, é actualmente que essa adulteração está mais acessível e poderá ter lugar mais facilmente.
A fotografia no início deste século está tão banalizada que caiu no esquecimento de muitos. Contudo quantidade não significa qualidade. E as “grandes” fotografias que vemos actualmente têm pouco de arte fotográfica e muito de arte informática. Confesso a generalização, no entanto é o que sinto e o que mais à frente tentarei demonstrar.
Se a modificação fotográfica no século XX já vinha carregando partes de humor, sarcasmo, meio de passagem de ideias e ideologias, o presente século veio acentuar uma faceta que só no final do séc. XX começou a aparecer: a modificação da fotografia com intenção publicitária.
Esta “faceta” surge num contexto de consumismo instalado nas sociedades, e numa era que se apelida de “comunicação”. É nesta era que a fotografia como linguagem ganha todo um novo valor, toda uma nova dimensão!
O jornalismo, a Internet, tudo vai funcionando com apoio da fotografia. Milhares de fotografias vão circulando diariamente pelo mundo, através da imprensa escrita, através dos periódicos on-line, através de correios electrónicos…
Até os telemóveis ganham mais valor se tiverem câmara fotográfica. Nesta era da comunicação tem mais credibilidade quem tem provas físicas – fotografias, imagens… Mesmo sabendo que estas mesmas “provas” possam ter sido adulteradas.
Às vezes até os meios mais fidedignos nos desiludem! A fotografia é aquilo que o Homem faz dela.


2 - A Fotografia no séc. XX

Alvin Langdon Coburn estabelece ligações com o Ring Brotherhood (grupo que entre 1892 e 1908 estruturou o movimento pictorialista inglês). Encontra-se no cruzamento das influências do Simbolismo, do Pictorialismo, do Modernismo e das vanguardas que emergiam, extraindo sempre dessas oportunidades novas possibilidades plásticas de representação fotográfica. É em 1917 que o fotógrafo desenvolve o trabalho dos Vortogramas, célebre pela condição abstracta destas imagens.
Como já referi, num dado período muitos artistas começaram a olhar a fotografia como um quadro do real que poderia ser alterado de modo a passar uma ideia sobre esse mesmo real. Foi o caso de Lissitzky que além de arquitecto, professor, designer gráfico e tipógrafo foi ainda fotógrafo. Sendo um dos impulsionadores do Construtivismo. Construtor além de ser um espelho da vida do autor, é o melhor exemplo de um trabalho do construtivismo.
É neste campo que a fotografia, e tudo o que utiliza como meio a fotografia (como por exemplo a propaganda), começa a inteira-se, cada vez mais, do social e da realidade social. Tornando-se muitas vezes num meio de protesto e de luta.
John Heartfield, pintor, cenógrafo, artista mestre e precursor da fotomontagem é um exemplo de artista que utilizou esta técnica para passar os seus ideais e para defender causas. Ao lado vemos a capa de uma edição especial da AIZ sobre uma acção conjunta anti-fascismo intitulada “Todos os punhos num único aperto”.
Este é um dos muitos exemplos que poderia referir em relação a este artista. A sua luta contra o nazismo traduziu-se em inúmeros trabalhos de fotomontagens.
A fotografia desde a sua descoberta foi evoluindo e com ela a sua própria evolução como linguagem. É neste século (XX) que se pode começara aplicar, de forma irrefutável, o slogan “uma palavra vale mais que mil palavras”.
Richard Hamilton por muitos considerado o “pai” da “pop arte”, disse, em 1956, que as obras artísticas deviam ser “populares, transitórias, esquecíveis, produzidas em massa, jovens, em escala empresarial, de baixo custo, humorísticas, sexy, ardilosas e glamorosas”. Na verdade, hoje em dia a fotografia encontra-se dentro destes parâmetros. No entanto as verdadeiras obras de arte fotográficas, nomeadamente as de Richard Hamilton, continuam a ser tudo menos “pechinchas”.


É também este autor um dos que começou a abordar temas como “a sociedade consumidora”, “a Masculinidade e o Feminismo”, “a tecnologia”, “O porquê da arte ser transitória”, “O Humor relacionado com a Ironia”…
Esta montagem é um exemplo da abordagem a muitos dos temas referidos. É também uma evidência de que a fotografia acompanha a sociedade e os temas sociais. A sexualidade, a emancipação da mulher (mas ao mesmo tempo a mulher como dona de casa), a adoração o corpo, a televisão, a rádio, a publicidade…
Hamilton consegue perceber o que o futuro traria. Como já podemos perceber em nada se equivocou. Esta montagem é tão, ou mais, actual do que foi na sua época! O fotógrafo entende que o futuro passará pela comunicação, pelos meios de comunicação, pela sexualidade, pela publicidade, pelo humor…
Importa ainda abordar as correntes que marcaram a história da fotografia neste século.
Já aqui abordámos o Construtivismo. Este foi um movimento de arte abstracta que se manifestou pouco antes da Revolução Russa de 1917 e veio a subsistir até 1922.
Os Construtivistas tinham como objectivo fazer da arte, uma investigação autónoma e científica, averiguando as propriedades abstractas da superfície pictórica, da construção, da linha e da cor.
O Construtivismo foi lançado em Moscovo após a Revolução, por Vladimir Tatlin e Alexander Rodchenco, e ainda El Lissitzky e Naum Gabo;
Os construtivistas deram um também um extraordinário impulso à fotografia como linguagem, inovando radicalmente nos domínios da propaganda, colagem, artes gráficas, tipografia, fotografia e fotomontagem, cinema, teatro, etc.
Já o Dadaísmo foi uma corrente que se opôs aos valores tradicionais, procurando destruí-los, defendendo a liberdade do indivíduo, a espontaneidade e a imperfeição. A sua utilização assinala a falta de sentido que a linguagem pode ter. Contrariando a ideia que a fotografia deveria passar uma mensagem e/ou ter uma linguagem mais ou menos definida. O Dadaísmo é sobretudo, caracterizado pela oposição a qualquer tipo de equilíbrio, pela combinação de pessimismo irónico e ingenuidade radical, pelo cepticismo absoluto e improvisação. Contudo, a meu ver, (e seguindo a lógica de que os opostos tocam-se) a mensagem das fotografias inerentes a esta corrente tinham uma mensagem tão implícita que, não raras vezes, se notava uma mensagem bastante explícita. E a linguagem que teimavam em insistir não haver encontrasse bem visível.
A principal estratégia do Dadaísmo escandalizar. Os dadaístas utilizavam muitas vezes a fotomontagem como arma para lançar o seu sarcasmo.
Outro movimento houve que surgiu na “cidade luz” no ano de 1920 e floresceu na Europa entre as duas grandes guerras. Este movimento cresceu sobretudo a seguir ao Dadaísmo, mas ao contrário deste, não era baseado na negação mas sim na expressão positiva. Radicalizando as suas propostas de liberdade, anti-convencionalismo e anti-tradição dos valores da cultura ocidental. A esta corrente artística denominamos de Surrealismo.
O Surrealismo é caracterizado sobretudo pelos temas que aborda, fornecidos pelo inconsciente e subconsciente: o acaso, a loucura, os sonhos, as alucinações, o delírio ou o humor. Está profundamente ligado a uma filosofia de pensamento e acção, em que a liberdade, principalmente a de pensamento, era extremamente valorizada.
De notar que o Surrealismo continua a crescer em todo o mundo. Apostando, principalmente, num processo de investigações do pensamento e da mente. Vê-mos nos nossos dias algumas da melhores e mais bonitas artes.
Poderia abordar outras correntes. Correntes essas que até estejam mais próximas dos nossos dias, e que tenham surgido em tempos mais recente. No entanto, vou tentar pegar nestes movimentos para explicar um pouco do presente.




3 - A fotografia na era digital

A fotografia digital nasceu nos anos 60 no meio da guerra fria, com as disputas ideológicas, informáticas, tecnológicas e espaciais entre EUA e URSS. Porém apenas em 1990 se iníciou o processo de democratização da fotografia digital.
Neste ano (1990), a Kodak lançou o DCS 100, a primeira câmara digital de cariz comercial. O preço de mercado da DCS impediu o seu uso no fotojornalismo e em nas várias aplicações profissionais. No entanto tinha-se dado o primeiro passo na era digital.
Em 10 anos, as câmaras digitais tornaram-se produtos de consumo, e quase que não há família que não tenha uma. Ou pelo menos um telemóvel com câmara fotográfica. Estão (as máquina fotográficas), provavelmente, a substituir gradualmente as máquinas tradicionais. Muito devido à questão preço/qualidade, o preço destas tem vindo a decrescer enquanto a qualidade das mesmas tem vindo a aumentar.
Contudo, a fotografia analógica vai perdurar, sobretudo, devido aos fotógrafos amadores que se dedicam à arte de fotografar usando a “velhinha” máquina. Mas também devido aos artistas qualificados que preservam o uso de materiais e técnicas tradicionais.
Na fotografia digital, a luz sensibiliza um sensor, chamado de CCD ou CMOS, que por sua vez converte a luz num código electrónico digital, uma matriz de números digitais, que será armazenado num cartão de memória (interno ou externo). Geralmente, o conteúdo da memória – as fotografias - será mais tarde transferido para um computador para preservação e/ou impressão. Actualmente já é possível transferir os dados directamente para uma impressora (através do sistema de bluetooth ou infra-vermelhos) e gerar uma imagem em papel, sem o uso do computador. Uma vez transferida para fora do cartão de memória, este poderá ser apagado e reutilizado. O que é uma clara vantagem em relação aos rolos fotográficos.
Os meus de comunicação foram os primeiros a aderir a esta era numa tentativa clara de baixar custos e de conseguir a edição dos trabalhos muito mais velozmente.
As novas tecnologias começando a tornar-se acessíveis ao grande público, iniciaram um processo de grandes mudanças na relação da sociedade com a fotografia.
Existem nos dias de hoje ferramentas para se capturar imagens digitalmente ou digitalizar imagens já existentes e facilmente manipulá-las em praticamente todas as suas propriedades. Contraste, nitidez, brilho e até a própria forma dos elementos que compõem a foto pode ser modificada com extrema facilidade. Cada vez mais os softwares de tratamento de imagem evoluem. Tornando os processos de edição e de montagem muito mais rápidos, compostos e apeteciveis.
Existem diversos sistemas de processamento de imagens disponíveis no mercado e na própria internet. Muitos deles gratuitos e outros gratuitos para testar. Estes softwares distinguem-se, principalmente, pela forma de distribuição (como já referido), pela área de aplicação e pelas plataformas em que estão disponíveis.
No entanto, o programa mais bem sucedido, não importando a categoria, é o Adobe Photoshop, actualmente na versão CS3. É o mais robusto e confiável sistema de processamento de imagens. Existem outros na mesma linha (Corel PhotoPaint, o Fractal Design Painter…), no entanto o PhotoShop é o mais utilizado e o mais procurado pelos profissionais que trabalham com fotografia e com a sua edição.
E é da manipulação da fotografia realizada por softwares, sobretudo pelo referido anteriormente, que vou falar de seguida.


3.1 - Photoshop e a fotografia

O Photoshop tornou-se uma peça indispensável na imprensa escrita, no comércio fotográfico ou até na vida quotidiana de um qualquer jovem que tenha o gosto pela fotografia digital.
A sua utilização pode ser magnífica e ajudar imenso na edição veloz das fotografias por parte dos profissionais. Mas é também uma poderosa arma de manipulação. E mal utilizada por ter consequências inimagináveis.
Este programa está ao alcance de qualquer um, e assim como pode ser usado em termos profissionais (de modo a facilitar a paginação, a tornar mais bonita uma foto), em termos pessoais (para fazer umas montagens da família numa ilha paradisíaca), pode muito bem para destruir vidas e relatar falsidades como verdades absolutas.
A facilidade com que se pode “brincar” com as fotos é uma das vantagens desta era do digital.


3.1.1 - A manipulação da fotografia e o humor

Apesar do perigo deste programa, ou melhor, das pessoas que o utilizam, é raro existirem problemas de adulteração! Geralmente, as modificações ficam-se pelo humor a situações engraçadas. Muitas delas vêm-nos parar aos nossos correios electrónicos. Alguns com o nome do seu autor, outros (a maioria) isentos dessa informação.
A modificação da imagem nestas situações tem apenas o objectivo de fazer rir (ou sorrir), de fazer uma crítica mordaz a algo ou alguém, ou apenas manipular uma imagem de modo a construir uma realidade engraçada.
Construir um rato a partir de um kiwi faz parte apenas de uma visão surrealista do seu autor. E o rato que é um animal que, normalmente, faz extrema confusão e suscita reacções de um certo nojo, está aqui caracterizado de modo simples e engraçado. A modificação da fotografia é óbvia e não provoca qualquer dúvida a quem a está a analisar.
Estes “trabalhos” humorísticos são geralmente concebidos por amadores e estes não têm objectivo de ganhar nenhum prémio monetário com o seu trabalho. No máximo, a divulgação do seu nome no universo da internet.
Fazem-nos nas horas vagas, como hobby, por pura distracção ou pelo prazer da modificação da fotografia!


3.1.2 - A manipulação da fotografia e o erotismo

Outra das funções da modificação da fotografia prende-se com a sua utilização no mundo do erotismo. O Photoshop, veio revolucionar de igual forma este universo, ludibriando em certo ponto o “consumidor”. Aqui não falamos de adulteração da realização, mas de “melhoramento da realidade”. No entanto, a meu ver é tudo uma questão de português.
A meu ver a distinção poderia ser feita da seguinte forma: existe adulteração da realidade quando a foto tem objectivo de prova ou informação; “melhoramento” quando a foto objectiva o entretenimento, que é o caso do erotismo. Estes ajustes normalmente são utilizados em revistas masculinas, e têm como finalidade dar uma visão mais prefeita da mulher, dar ao consumidor o que ele deseja. Existe uma construção do ideal.
Muitas, para não dizer todas, das fotos de modelos que vemos em revistas são melhoradas. Ora mais luz, ora menos rugas, ora tirar um pouco de celulite, ora aumentar os seios…
Esta modificação, nas revistas, como que é bem vista pelos compradores destas. Apesar de saberem que estão a ser ludibriados, não se importam. Preferem manter-se num mundo irreal/perfeito do que olhar de frente para a verdade.
A modificação da fotografia é usada assim como um ópio para estas pessoas! Portanto, cada vez mais se vê a sua utilização no nosso dia-a-dia. Vemos aqui a diferença entre a modificação da fotografia no início do século XX (que servia, na sua maioria, como um chamar de atenção da sociedade para os problemas) e a modificação no início do século XXI (que na sua maioria serve para afastar as pessoas da realidade).
A barreira entre o “melhoramento” e a adulteração é extremamente ténue, mas poucos são os que se preocupam.




3.1.3 - A manipulação da fotografia e a publicidade

Este “melhoramento” não é só usado nas revistas masculinas e femininas. É usado também, em grande quantidade, na publicidade e nas propagandas comerciais com o intuito de vender.
Mas é extremamente difícil, nos dias de hoje falar de publicidade sem falar no corpo humano. Sejam perfumes, roupas ou até cerveja todos os spots utilizam o corpo para fazer vender. E como já vimos anteriormente, as imagens neste campo sofrem (quase) sempre alterações.
Mas além de se modificar as formas de quem está a dar o corpo para fazer vender algo, modifica-se também o produto de modo a ser mais apelativo à compra. Apesar de nunca conseguirmos ter em casa aquele casaco, aquelas sapatilhas, que vimos na publicidade.
Também neste mundo parece existir uma aceitação da alteração da realidade.
Mas existe um lugar onde estas alterações estão cada vez mais a ser criticadas. Os fãs da sétima arte exercem criticas mordazes às alterações das formas físicas dos seus actores e actrizes favoritas.
O último caso a vir a público refere-se a um pequeno aumento dos seios da jovem actriz Emma Watson (Hermione em Harry Potter), num dos cartazes publicitários do filme.
De estranhar o facto de que é de um mundo onde se vive da e na ilusão que vem o primeiro grito de que se tem de separar a realidade da fantasia e a alteração da realidade não pode ser usada de forma leviana nem pode ser de modo nenhum banalizada.
Começo-me a perguntar onde se encontra neste tempo em que vivo a alteração da fotografia como forma de arte, sem ter o objectivo de vender algo! Ou pelo menos se existirá no mundo comercial um lugar onde a manipulação da fotografia não seja usada para vender um produto.
Nas revistas manipula-se a imagem para ser mais bonita de modo a vender a revista. Na publicidade de modo a vender o produto publicitado, no cinema altera-se de modo a vender o filme… falta-nos um campo, que propositadamente deixei para último: o jornalismo!
Podia ter abordado quando me referi às revistas, no entanto diferencio estes dois meios. Pois a informação é algo imparcial e que só pode mostrar a realidade, sempre condicionada por um ângulo de abordagem, mas não nos mente, nem nos tenta vender nada.


3.1.4 – A manipulação da fotografia e o jornalismo

Como já referi, o jornalismo não pode mentir. Confiamos nos órgãos de comunicação porque sabemos que nos informam sobre a realidade. Seja na televisão ou nos jornais, “uma imagem vale mais que mil palavras”.
O que aconteceria se também no jornalismo nós fossemos iludidos?! Já aconteceu algumas vezes, histórias contadas erradamente, histórias inventadas, fotos tiradas de contexto… divago aqui recordando-me do famoso “repórter X”. Mas vou mais longe. O que faríamos se uma grande agência como é a Reuters divulgasse uma fotografia manipulada por Photoshop e que mostrasse uma situação falsa, de modo a dar ideia de algo, que verdadeiramente não aconteceu?
Foi o que aconteceu! Várias foram as queixas apresentadas à Reuters depois de divulgada a foto para toda a imprensa que rapidamente se apercebeu da situação.
No quadro a vermelho da foto (a que foi enviada pela Reuters para toda a imprensa), podemos ver como a imagem dos edifícios em baixo é repetida mais atrás. Esta “pequena” modificação tinha como fim mostrar que os bombardeamentos realizados eram sobre as áreas residenciais, e eram feitos de uma maneira indiscriminada para atingir não as infra-estruturas do Hesbolah, mas as zonas habitacionais.
A Reuters admitiu, mais tarde, o erro e suspendeu o jornalista autor desta manipulação. No entanto, ficámos a saber que temos de ter cuidado ao visualizar a próxima fotografia, pois não sabemos quando estamos a ser enganados




Este é um exemplo claro de adulteração da foto/realidade. Houve uma tentativa clara de enganar o “consumidor” desta fotografia com o objectivo de vender o produto, neste caso uma informação falsa.
A manipulação da fotografia está ao virar da esquina e por mais que pensemos que sabemos donde ela vem seremos sempre surpreendidos por uma nova maneira de adulterar uma realidade “óbvia”.


3.2 - A sociedade e a fotografia

A sociedade actual afasta-se um pouco da fotografia. Estando a pseudo - fotografia tão banalizada a sociedade erradamente pensa que sabe muito sobre fotografia e a resposta obvia a uma pergunta sobre fotografia seria “estou farto(a) de fotografias”. Este excesso de fotografias deve-se a colocação em mercado de mil e uma formas de tirar fotografias, outras tantas de armazena-las, mais umas quantas de como as manipular e imprimi, acessíveis a qualquer um
Apesar de eu crer que não só a fotografia está a passar por esta fase de “exclusão”, mas sim toda a forma de arte e de cultura, vou neste ponto apenas abordar a fotografia. Quando falo de “exclusão” refiro-me à tentativa de afastamento da fotografia da vida social.
E esta exclusão de que falo, ao contrário do que se possa pensar, vê-se também em programas de cultura. Num dos episódios de “Câmara Clara” (programa que era transmitido pela 2:) discutiu-se a internacionalização da arte portuguesa.
Para o debate foi convidada o pianista Artur Pizarro e a escritora Inês Pedrosa. A peça que introduziu o tema do programa abordou o cinema, a música, a literatura, o teatro, a pintura, a instalação, o vídeo… Contudo, não se falou na fotografia.
Não acredito que os portugueses não vejam a fotografia como arte, até porque no estrangeiro se começa a notar o mesmo cenário de “exclusão”. Acredito, ou pelo menos quero acreditar, que tudo se deve a esta enorme facilidade com que as pessoas actualmente usam e descartam as coisas. E talvez pelo facto de actualmente só se ver em exposição a vanguarda mais audaz e se esteja a fazer pouco para criar um público atento e conhecedor de fotografia.
Todos os dias saem novos “artistas” das escolas de artes. E o sangue novo procura sempre afirmar-se, e essa afirmação é conseguida apenas pela surpresa, pela inovação. Portanto, surgem novas abordagens à fotografia a um ritmo alucinante e com elas naturalmente surgem resistências.
Num mercado em constante mutação e que cria modas a uma velocidade vertiginosa é necessário ter em atenção ao que é realmente bom.


4 – Conclusão

O Homem desde o início da sua existência que sempre tentou manter e fixar movimentos. Começaram com pinturas rupestres, passaram pela pintura em tela e escultura, e, por fim, chegámos à fotografia.
Este é um meio de comunicação de massa, sendo muito popular nos nossos dias, como podemos ver. A fotografia tem uma linguagem própria que tem vindo a ser controlada pelo homem ao longo dos tempos. O objectivo dessa adulteração também têm vindo a cambiar, ajustando-se sempre ao espaço-temporal em que os seus autores estão inseridos.
Se no início do século XX avistava-se a manipulação da fotografia como um grito contra os vícios sociais, contra a guerra, contra certas ideologias, actualmente é o inverso. A manipulação da fotografia serve para manipular a população. Manipulá-la de forma a vender, de forma a ganhar dinheiro com isso.
Vimos que as actuais fotomontagens têm quase todas o objectivo de levar a mente do observador um pouco mais além. Construir um mundo imaginário, surrealista, é a meta desses trabalhos. No entanto poucos se dão conta da verdadeira arte fotográfica, que vai passando despercebida. De acordo com Barthes “muitos não consideram a fotografia arte, por ser facilmente produzida e reproduzida, mas a sua verdadeira alma está em interpretar a realidade, não apenas copiá-la”. A fotografia é, sem dúvida, uma das mais importantes criações humanas. A partir de sua invenção a forma de se ver o mundo mudou significativamente.
Fazer fotografia não é apenas apertar o disparador. Daí afirmar que a sociedade apenas banaliza a “pseudo - fotografia”. Pois uma boa fotografia tem de ser tirada com sensibilidade, registando um momento único, singular.
Num mundo dominado pela comunicação visual, a fotografia, para muitos, só vem por acréscimo. “Pode ser ou não arte”! E isto é verdade, tudo depende do contexto, do momento, dos ícones envolvidos na imagem. Cabe ao observador interpretar a imagem, acrescentar-lhe seu saber e o seu sentimento.
Na realidade, assistimos hoje a algo que parece pensar a fotografia mais como um dispositivo que facilita a documentação, do que como uma linguagem a explorar em termos das suas propriedades intrínsecas.
Mas o problema não está no observador da foto! Começa pela dificuldade em definir fotógrafo. Será necessário ser fotógrafo para fazer fotografia? Esta é uma pergunta difícil de responder. Se entendermos fotógrafo como aquele que tira fotografias, qualquer pessoa pode ser fotógrafa. Se limitarmos fotógrafos às pessoas que têm o objectivo de passar uma ideia, ficam de lado todos que tiram fotos pelo simples facto de as tirarem, e aqueles que tiram fotos de família… No entanto, creio que é o olhar do fotógrafo que transforma uma fotografia numa obra de arte e não a sua utilização;
A grande parte dos trabalhos apresentados na exposição de Serralves deixa no ar uma mesma questão, de difícil resposta, e com a qual eu finalizo o meu trabalho: “Onde mora a fotografia hoje?”.



Em anexo envio mais alguns exemplos de manipulação de fotografia!!!

5 - Bibliografia:


http://pt.wikipedia.org/wiki/Dada%C3%ADsmo
http://pt.wikipedia.org/wiki/Fotografia
http://pt.wikipedia.org/wiki/Fotografia_digital
http://pt.wikipedia.org/wiki/Surrealismo
http://www.1000imagens.com/
http://olhares.aeiou.pt/
http://www.desenhografico.wordpress.com/2007/04/18/fotografia-digital/
http://www.fcsh.unl.pt/edtl/verbetes/D/dadaismo.htm
http://www.manuelgrilo.com/rui/fotografia/
http://www.oelogiodasombra.com/?p=390
http://www.tipografos.net/designers/lissitzky.html
http://www.universia.pt/servicos_net/informacao/noticia.jsp?noticia=35433

1 comentário:

Anónimo disse...

A manipulação do rato é horrivel, pobre criatura...essas da fruta com animais estao de facto muito bem feitas, mas se nao forem inseridas num contexto de alarmar as pessoas contra os maus tratos a natureza e animais, são deprimentes e tristes. A do gajo com cara de cão È FIXE!