29 de maio de 2008

Resumo de Teoria política

“Matar é o objectivo daqueles que rodeiam para se livrarem, assim, do medo.”

“Enquanto for vivo, o homem não se livrará do medo.”

Joseph Consad

Flávio Josepo “A Guerra dos Judeus”

· Um ser humano deseja conservar a sua vida. No limite mata para isso.

Teoria Ordem (Elias Coneti)

· “Fechar porta” (ordem de morte);

· Quando se cumpre uma ordem, e as ordens vêm sempre de cima, contrariado cria-se o aguilhão (rancor). Como se se livram dele? Dar novas ordens a outras pessoas. Daí a ordem ser imparável;

· A ordem é tão forte que o aguilhão fica na memória, para que mais tarde numa situação semelhante surja e nos possamos livrar da ordem e do aguilhão consequentemente;

· Nada da vida escapa ao poder da ordem. Obedece-se porque se não morre-se;

· O carrasco mata para não ser morto – situação limite.

O que distingue a política da religião, economia, gestão e todas as áreas da actividade do Homem? A figura do inimigo (oposição); sem esta figura não haveria diálogo político!

Numa situação extrema qualquer Homem é inimigo do outro e pode matá-lo. A única igualdade entre os Homens é essa mesma:

- Todos os Homens são potencialmente inimigos de todos os Homens.

Sobreviver é perigoso. Dá uma sensação falsa de imortalidade, de invulnerabilidade. Os outros morrem para ele sobreviver. O que ganha a vida, não há nada que manche o milagre de ter sobrevivido.

Na economia política da Filosofia Moderna o medo é fundamental. É um distrito natural que assiste qualquer Homem.

2 Princípios antropológicos da teoria política de Thomas Hobbes

- Antropologia do Homem: ser de natureza em que é dominado por paixões inatas, vaidade, paixão de alma; amor pelas próprias capacidades naturais.

O Homem de Thomas Hobbes é um ser que não é social, não devido a uma tendência natural, mas para satisfazer interesses, vaidades e necessidades; no fundo, por egoísmo!

O mais importante para o Homem é salvar a vida como um lobo em constante luta. Assim perante o medo de morrer o Homem tende (inclina-se) para a Paz.

Como o Homem é um ser racional, pode suspender o direito (estado) natural e criar algo. De todas as paixões, a que menos (?) leva o Homem a respeitar a lei é o medo.

A conservação da vida é o princípio do Homem. O Homem é egoísta e cobarde. A política só se concretiza usando a cobardia e o egoísmo do Homem.

- Sem violência não há estado. Sem medo não há estado.

O Homem quer sobreviver porque tem medo da morte. O Homem tem medo da morte para procurar sobreviver.

Igualdade Natural (Thomas Hobbes) – “São iguais naturalmente os que podem azer coisas uns com os outros. Os Homens são então por Natureza (expressão literal e simbólica) iguais.”

Abandonar a corrida (depois da partida em que são todos iguais) é morrer. O objectivo da corrida é ser o 1º, ser ultrapassado é miséria.

Maquiavel – “O Príncipe”

É melhor ser amado ou temido pelos súbditos? Na impossibilidade de conseguir as duas condições, deve-se preferir pela segunda pois os Homens temem menos ofender alguém que faça o amor, do que alguém que se faça temer. É que o amor vai e vem, mas o medo fica sempre.

Joseph Conrod – sobre o medo:

- Enquanto os Homens se agarram à vida, o medo está em todo o lado. Até na morte ele existe.

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O medo não é exclusivo dos regimes tirânicos. Até no mais perfeito dos regimes, o medo é fundamento que reina.

16-10-2007

Dada a lei natural, Hobbes defende a regra prescreve que o homem mantenha a paz de medo a salvaguardar a sua vida – é uma razão instrumental (meio para atingir o fim) e não um imperativo categórico.

As leis naturais(1) obrigam apenas no foro interno(2), e não externo(3)!

1 – Não faças ao outros…

2 - Impõe desejo de que sejam cumpridas (podem ser violadas).

3 – Podem não ser concretizadas.

Mas o Estado Natureza, que garantia tenho eu se for prudente e caso os outros não observem e sigam a minha prudência? Não há força maior que garanta isso; ainda não há pacto (o passo para a sociedade cível)

Seguir os impulsos da razão para que irresistivelmente todos façam o mesmo (prudente) e vivam em paz.

O Estado é um produto da vontade e do engenho humano para suprir (completar) as deficiências da natureza. É uma coisa artificial.

Condições do facto (Pactum Societatis e Pactum Subjectium)

- Acordo de muitos;

- Acordo não temporário;

- Acordo que não basta que reúna pessoas com um fim comum.

A finalidade do pacto é renovar as causas de insegurança. Logo, tem de haver um poder comum; cada um abdica do seu próprio poder.

Factores:

a) Económicos: todos concordam em atribuir os seus bens a uma identidade;

b) Força física: a mesma situação

Com isto vemos que estamos é perante um estado de sujeição que Hobbes chamará de Estado de União.

Ver capítulo XVII do Leviatã, pág. 146:

- As condições para a segurança implicam a sujeição a uma só vontade.

“Cedo e transfiro o direito natural de ma governar a mim mesmo, a este homem ou assembleia com a natureza de que qualquer outro o fará” – Implicam-se todos os homens na formação de um estado.

Paradoxo: o soberano está simultaneamente dentro e fora do facto. Dentro porque se submete, fora porque representa os actos de todos os outros.

“A mútua relação entre a protecção e a obediência”

O Poder comum compreende - o poder económico – dominium

- o poder coercitivo – imperium

Assim, é Hobbes que sita Job, não há ser na terra que se lhe compare – o poder do leviatã é um poder absoluto, é assim que o poder do estado tem de ser.

Porquê Mortal God? Porquê a qualquer momento pode ser desfeito e voltar-se ao estado de natureza. Uma guerra civil seria capaz disso.

As várias definições de Estado ao longo da obra de Hobbes!

É obcecado com a segurança(1):

· 1640: Guerra civil inglesa entre protestantes e católicos. As discórdias entre o poder temporal e espiritual(2) comprometiam a unidade, esta podia ser dissolvida

1) A política de hoje é de segurança.

2) Por isso é que o Leviatão segura em cada mão o símbolo civil e o símbolo religioso.

A preocupação de Hobbes não é o excesso de poder concentrado numa entidade mas a falta de poder que compromete a segurança. Para Hobbes, Liberdade é Segurança!

3Características do poder que resulta do facto de união(*):

- Irrevogável

- Absoluto Correspondência com… (*)

- Indivisível

*) – por indivíduos entre si (multidão) e não do povo com um soberano

Para Hobbes, e sobretudo devido ao contexto histórico, seria impensável conceber uma divisão de poderes.

Definição de poder na pág. 149 do Leviatã (Cap. XVIII)

Argumentos a favor da irrevogabilidade:

- Dificuldades: visto não ser um povo mas indistintamente uma multidão, a rescisão do contrato só pode ser feita por todos – não por maioria mas sim por unanimidade. Mas não basta o consenso dos comerciados; é preciso também a do soberano. Há uma dupla obrigação: em face dos outros cidadãos e perante o soberano.

“O príncipe está absolvido da lei”

Hobbes – o poder do soberano é o maior poder entre os Homens, escreve-o sem limitações exteriores. É que quem é soberano é-o, e quem é súbdito também. Não há misturas.

Argumentos contra o absolutismo

- A questão do povo/multidão;

- A transferência de direitos é sempre parcial (existem mesmo alguns inaliáveis) não quase sempre total como diz Hobbes (Cap. XXI)

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Leis da Natureza: prudência, enunciado cristão, a sobrevivência, a segurança, a paz, o medo da morte violenta.

Sou parvo se sou prudente quando não tenho a garantia de que mais alguém o seja!

O fim do estado – A SEGURANÇA: estado em que se verificam as leis naturais sem medo de sermos prejudicados. Estados em que as leis tornam-se efectivamente positivas – execução coerciva das leis naturais.

O soberano não ordena o que é justo, mas é justo aquilo que ordena. (pág.219 – Cap. XXVI) – “a lei da natureza e a lei civil contém-se reciprocamente a têm a mesma extensão”

O soberano é-o porque está acima das leis naturais que lhe dá valor coercivo. Está dentro e fora simultaneamente.

A lei civil é decalcada da lei natural. Mas a hermeneutica interpretante do soberano é tota. Não há a teoria do abuso de poder em Hobbes porque o podder para o ser tem de ser abusivo, ilimitado. Se o poder fosse limitado não haveria soberania.

ü Reitera-se, falta uma teoria sobre o abuso de poder(1) (está aqui explicado e no contexto histórico).

ü A escassez (de poder) é que é o problema, porque o Estado pode-se dissolver e aí perde-se a segurança – a natureza!

1) Se não há limites, nunca poderá haver um abuso desses limites!

Cap. XXI

24-10-2007

Benjamin Constant – “A liberdade dos antigos comparada à liberdade dos modernos”

As liberdades distinguem-se conforme os sistemas políticos.

Segundo o francês, antigamente era a guerra, o impulso. Agora seria o comércio que substituiria a guerra, o cálculo. A passagem da antiguidade para a modernidade.

Conceito de Liberdade

Sempre que o Homem fica exposto à guerra, à violência física, a vida afectiva do Homem oscila entre o terror e o êxtase. Não há meio-termo.

Imperativo de Segurança – marca a contemporaneidade.

Hobbes: quanto mais liberdade menos segurança e vice-versa

Actualmente, ambos os conceitos imiscuem-se. A liberdade está cada vez mais determinada pela segurança, pela imunidade

Locke: Liberdade é ter direito ao meu corpo são e salvo

Acepção antiga de liberdade: potência que cresce/expande. É activa, não reactiva. Era o conceito do homem livre que dava sentido ao escravo;

Acepção moderna: incapacidade de pensar e liberdade positivamente que não está disponível. A liberdade fica cativa com o sujeito sobre si mesmo, é livre quando não há nenhum acto entre si e a concretização de uma vontade.

A liberdade deixa de ser um privilegio e passa a direito/segurança. Na modernidade, a liberdade é a capacidade de cada um se defender dos abusos da sociedade.

Hobbes: Ruptura epistemológica com o conceito de liberdade. Passa cada vez mais a ser confundida com a segurança!

Locke, 100anos depois, radicaliza esta versão securitária da liberdade moderna fazendo o tríptico: liberdade, propriedade, vida. Renunciar à liberdade é comprometer a vida. Para ele, é um direito subjectivo e dever biológico natural – conservar a sua vida!

A Liberdade é reduzida a um instrumento de conservação da vida(1) – radicalização da vida:

a) Eu sou livre proprietário do meu corpo

1) Redimensionamento semântico que converte a liberdade num coincidente natural com segurança. A liberdade como imperativo categórico de segurança. Eu sou livre na medida em que a minha vida está segura!

Motequieu – o espírito das leis

· A liberdade consiste na opinião que as pessoas têm de segurança (visto a volubilidade do conceito)

Panóptico – Jeremy Benta inspiração do “vigiar e punir” de Foucault

Onde não há coerção (coacção), não há segurança.

Ver sem ser visto!

O poder de tornar visível, deve ele próprio permanecer invisível.

O poder dos média.

As sociedades disciplinares com o encarceramento sucederam às sociedades de abertura com a flexibilidade vigilante – tudo pode ser visto

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7-11-2007

Estado(1) segundo Hobbes:

a) Uma multidão de Homens unidos como uma pessoa de uma só vontade para a paz, etc (E. of L.);

b) Uma única pessoa, não uma multidão, que resulta de acordos (De cibe);

c) Uma pessoa, de uma vontade, um poder comum para assegurar a paz (Cap. XVII)

1) Definição jurídica

A soberania é absoluta, irrevogável e indivisível!

Só pode ser atribuída a uma única pessoa (individual ou colectiva)

Para Rousseau no Contrato Social, o problema de Hobbes era o da unidade do poder.

Aversão à doutrina que provocaram a dissolução da unidade de Estado - Hobbes

Razões:

a) Divisão interna dos poderes;

b) Divisão entre poder temporal e espiritual;

Já antes tinha havido a doutrina do governo misto em que o poder de fazer leis é atribuído a uma assembleia democrática, o poder de julgar a outra e o de executar a outra.

- isto é muito contestado por Hobbes que raciocina sempre na forma: “ou isto ou aquilo”

No entanto, o importante é que sejam três, ou apenas uma assembleia, hoje como unidade, uma só vontade.

Ou o poder efectivo pertence aos que dispõem das finanças ou então dissolve-se – pensamento dilemático.

Poderes do soberano:

- Espada da justiça;

- Espada da guerra;

No soberano estão reunidos os três poderes. O legislativo recai na espada do soberano, etc. Os três são tão interligados que não podem deixar de pertencer todos à mesma pessoa – não podem existir formalmente separados.

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Relação entre o poder do Estado (temporal) e da Igreja (espiritual), que também devem estar reunidos na mesma pessoa. Quando os cidadãos têm de obedecer a preceitos das duas esferas, há confusão. Assim, se houver união e/ou coincidência tudo fica eficaz até porque a influência religiosa pode inclusive ser maior que a temporal. (Cap. XLIII)

- isto ganha alcance visto que as convulsões (agitações) da época tinha motivo religioso.

Havia obediência dupla: aos ministros da Igreja e aos do Estado. Assim, tem de haver união. “Eu sou da Religião que o meu príncipe é.”

As leis naturais não limitam o poder do soberano, pois apenas permanecem as que o soberano entender. (Cap. XIV do De Cile)

- as leis naturais apenas se reduzem em obedecer ao poder do soberano

Que define o que é espiritual e temporal cabe à razão e portanto ao poder temporal que absorve o primeiro e inclusive assegura a convocação da comunidade de fiéis. Até o Estado é quem decide quando acontecem os milagres.

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Todas as teorias positivas do Estado se dividem por convidarem o Homem, bom ou mau por natureza.

A fábula do Lobo e do Cordeiro é política – Estado(1) de Natureza (que Espinoza apelidou)

1) Os indivíduos servem-se das garras para saciar os seus instintos

Na ideia de Schmitt, o político tem de ser distinguido – qual a sua distinção última?

E a encontrar-se, ela é auto-suficiente da ética, económica e justiça

É a capacidade de diferenciação entre o amigo e o inimigo que constitui o critério ético do político (como belo/feio no estético, bom/mau no ético);

E é autónomo porque não se fundamenta em nenhuma das outras diferenciações para ter valor. Além disso, esta concepção não deve ser misturada com as outras. Ela subsiste por si sem se recorrer a outras distinções. Por exemplo, o inimigo político pode ser moralmente bom, esteticamente bonito e economicamente vantajoso.

Objectivo – estabelecer critério de diferenciar o político

Mas o inimigo não deve ser diabolizado? Talvez, mas mesmo quando recorremos a outras esferas para classificar o inimigo, o critério de Schmitt não perde o valor.

Para a oposição, amigo/inimigo ser validado, não precisa de se apoiar em nenhuma das outras.

Inimigo é o conjunto de Homens, combatente. É sempre um sentido político.

Hortis – a hostilidade é pública – inimigo público com ele temos uma guerra pública.

Trata-se do conceito político de inimizade

14-11-2007

Tudo se pode tornar político na medida que tudo pode ser agregado em termos de amigos e inimigos

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Distinção entre política(1) e o político(2) (que o francês Freud mais tarde desenvolveu)

1) Varia com o tempo e os locais

2) Domínio/essência que permanece imutável

Outras distinções de Schmitt entre o Estado e o Político

Webber diz que todo o estado está fundado na violência

Schmitt diz que o conceito de estado pressupõe o político ainda que este não se confine ao primeiro. O político coincide com a forma estado.

Estado – a situação que define a regra face aos vários estados privados.

Uma actividade é política quando se situa no limite do confronto das oposições. Há político onde houver antagonismo (agregar os amigos e desagregar, opondo-se, os inimigos)

A distinção entre amigo e inimigo (políticos) não deriva dos outros critérios (moral, económico, justiça, etc)

A única questão é saber como é que a configuração deste par se apresenta e realiza:

- Quem é quem? Quem é o inimigo(*) e o amigo em termos políticos. Não deve existir esta dúvida.

*) o outro, o estrangeiro, aquele cuja essência é diferente da minha, o que pode divergir e criar conflito – questão de autoridade

Quem perder esta capacidade de distinção, perde a existência política.

Para Schmitt a democracia implica que se o que é igual deve ser tratado de forma igual, o que é diferente deve ser tratado de forma diferente.

A igualdade pura entre Homens não é democracia, é mero liberalismo.

Qualquer oposição concreta é tanto mais política quanto mais se aproximar da distinção entre amigo e inimigo(1 e 2).

1) Conjunto de Homens que são combatentes a outro conjunto hostis e não inimigos.

2) Não deve ser visto de forma simbólica ou metafórica, nem de forma privada, é sempre existencial, prático e concreto e por outro lado público.

Hostis(3) e não inimigos(4)

3) O inimigo público

4) Inimigo privado. Apenas na esfera privada poderia fazer sentido amar o inimigo.

Perspectiva Hegliana o inimigo é distinguido por um critério ético

As sociedades sempre se organizaram e estruturaram em função dos antagonismos (incompatibilidade) públicos dos Homens.

A distinção do político implica a possibilidade de um conflito eminente a guerra decorre de inimizades a negação ontológica de outro ser.

Mas a guerra não é o fim, conteúdo ou objectivo do político. É o seu pressuposto e derradeira possibilidade.

Nietche – o Homem não pode viver sem o ferrete (estigma) do perigo.

A guerra é uma hibernação do qual o Homem sai mais forte para o bem e para o mal.

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Num globo terrestre totalmente pacificado não haveria política porque mesmo havendo antagonismo de outras ordens não haveria inimigo/político.

Mesmo uma oposição pacífica contra a guerra seria política. (Clausewitz)

- Será a guerra a continuação do político por outros meios ou vice-versa?

O conceito de humanidade exclui o conceito de político. E então quem define o que é um crime contra a humanidade?

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Leo Strauss(5) What is liberal education?

5) Alemão que fugiu ao Hitler para os EUA

A resposta é que a educação liberal pretende formar uma aristocracia (elite) nas democracias de massa.

Liberalismo ou liberdade antiga e moderna

O denominador comum é o conceito de liberdade que se articula de forma correlacional com o conceito de igualdade.

Oposição entre liberdade racional e tolerância universal

A educação liberal, orientada para a leitura e escrito, tem por objectivos a cultivação dos indivíduos, para a excelência e grandeza humana. Não era catecista.

É na capacidade de ler e escrever que assenta o direito de voto e a democracia moderna.

O que é? Não é um regime no qual todos os homens são salvos ou virtuosos,

É uma cultura de massas que não é apropriada à educação liberal!

A educação liberal e a responsabilidade(1) não são a mesma coisa.

1) Neologismo – um substituto moderno para consciência, virtude, justiça, sabedoria, excelência.

Mas Strauss diz que um homem pode ser responsável sem ser virtuoso.

A educação liberal é o esforço indispensável para formar uma aristocracia no seio de uma sociedade democrática da mesma.

Liberal - antigamente, este estado advinha da oposição perante a escravatura (os que não tinham tempo para si próprios)! Liberal era o que tinha tempo para si e para o ócio (lazer) e o que fazia uso da riqueza e dar da sua riqueza, por isso constituir um acto nobre.

Liberdade – alguém ser digno de honra, a excelência humana. Este homem vive na cidade e dedica o seu tempo à reflexão da política (os aristocratas e os gentleman).

A democracia é um regime no qual a maioria governa mas apenas uma minoria é educada. Assim, é a liberdade o critério e não a virtude (que apenas viria da educação). Assim, os antigos terão rejeitado a democracia

John Stuart Mill formular a relação entre o governo representativo e a educação liberal.

A sua tendência vai no sentido de uma mediocridade colectiva que põe o poder em classes cada vez mais a baixo do nível de instrução da sociedade.

Pressuposto da filosofia moderna os Homens são educáveis por natureza e igualmente capacitados por excelência.

Mas isto não era mais do que um dogma universal iluminista. É que nem todos os Homens têm as mesmas capacidades (mesmo as biológicas) e uns serão mais “educáveis” do que outros.

Locke, Jeperson – não há diferenças biológicas que justifiquem “castas”. Todos são capazes até porque há as virtudes do método.

“A perseguição e a arte de escrever” – Leo Strauss

- debate-se a oposição se o conhecimento é acessível a todos (os enciclopedistas) ou se é privado aos privilegiados

A questão é que, de forma mais realista, nem os métodos e as condições científicas podem pôr todos os Homens ao mesmo nível de instrução!

Na concepção corrente, só há liberdade se for absoluto.

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Dogma – a igualdade de oportunidades (Todos diferentes, todos iguais!).

Hobbes – compara a vida do Homem a uma corrida.

A desigualdade só se desenvolveria depois da partida – teorias políticas modernas

Mas esta não existirá já antes da partida?!

O que é a tolerância? Quando levado ao extremo é a prevenção da doutrina de igualdade natural entre Homens.

A tolerância abre a porta do relativismo(1) – é aliás o conceito multi-culturalismo (Jonh Locke)

1) Já não há critérios – é tudo mau e bom ao mesmo tempo.

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21-11-2007

Leo Strauss – What is political philosophy?

A filosofia política clássica (Platão e Aristóteles) é determinada pela dimensão da sua vida pública/política. A sua natureza era eminentemente prática(2) e não tanto compreensiva, ou seja, filosófica (há conflito entre as duas).

2) A condição da vida política pelo estadista culminando em juízo de valor distinto da actual filosofia política que pretende ser neutro (Max Webber)

A filosofia política moderna pretende autonomizar o político (depender apenas de si próprio) da ética.

A filosofia política clássica utilizava uma linguagem acessível e do quotidiano para reflectir sobre a natureza das coisas políticas. Aqui, a política vê-se numa rectidão que foi inigualável. O pacto de abordagem era o do cidadão, do Homem lúcido, e não de um ponto de vista externo. Esta teoria é tanto:

a) Global e compreensiva;

b) Uma prática, um savoir faire;

Na filosofia antiga política:

A mais arquitectónica das competências políticas é a legislativa. Um filósofo político é um mestre de legisladora, árbitro por excelência da controvérsia da vida política. Papel retórico para a resolução de conflitos: saber qual a melhor constituição que deve regular a sociedade onde vive – a procura da arethê!

E qual a maior diferença entre as duas filosofias?

A filosofia antiga regia-se pela procura da melhor política = constituição = regime e assim o seu objectivo é a prudência, o discernimento, a sabedoria prática do Homem do Estado, a forma como ele conduzia a cidade, que possuía conhecimento e sabedoria especificamente políticas tanto a habilidade (a prática) como a teoria.

Esta filosofia é por excelência transferível, ensinável – A Retórica, a arte da persuasão. O político precisaria de actos, mas sobretudo da palavra para governar. É ensinável porque seria válido para qualquer região.

No entanto o conhecimento político não se confunde na retórica, nem nela se esgota. Cada vez que se reflecte sobre a política ou as controvérsias da cidade/ constituição/ regime, retiram-se daí conclusões que têm um alcance universal. Qual o melhor, é uma questão global de implicação e todas os domínios.

Se toda a filosofia política é pensamento político, nem todo o pensamento político é filosofia política.

A filosofia política situa-se entre opiniões e a teoria/conhecimento. O seu domínio é o dos conceitos – pensar é agir por conceitos!

Importa interrogar o estatuto filosófico da transmissão/comunicabilidade da filosofia política.

A questão prende-se com a arte de escrever esotérica (oculta/secreta) do político.

O político clássico deve dirigir o seu conhecimento, não apenas teoria, não aos inteligentes, mas aos honestos.

A filosofia política clássica não é neutra de valores e pronuncia sobre o justo e o injusto, etc. Estabelece-se uma hierarquia de valores em função da ética. O preceito é ético.

*O problema colocava-se na procura da virtude, da excelência, do valor e não no problema da liberdade moderna.

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Para Strauss há um conflito irresolúvel entre a filosofia e a cidade (política, o mundo, a sociedade).

É a tentativa de substituir a opinião sobre todo pelo conhecimento pelo todo – objectivo da filosofia (política). Mas as opiniões são inerente À sociedade e isto não lhe deve ser retirado – por isso a filosofia é para uma elite.

Assim, os políticos desenvolvem uma forma própria de escrever que lhe permite revelar o que é verdade para uma minoria sem comprometer a adesão incondicional da maioria às opiniões sobre as quais a sociedade assenta.

Diferença entre:

a) Esotérico (estranho/secreto) – o ensino para a elite preparada – treinada, cuidadora e interessada.

b) Exotérico (comum/público) – ensino socialmente útil e acessível a qualquer leitor.

Marcelo Rebelo de Sousa faz bem esta combinação!

A distinção implica os pólos do conhecimento (verdade) racional e da opinião comum.

A filosofia e a ciência são e continuarão inerentes a uma elite.

Para a maioria dos Homens, a filosofia é suspeita e odiosa (ver o destino de Sócrates), para que é que serve? – Strauss

A comunicação da verdade política é indesejável!

Strauss diz que a filosofia ofende a cidade política porque questiona as opiniões sobre as quais se funda. Sócrates é o grau de exemplo. Os filósofos devem ensinar a ser cuidadosos e a respeitar as opiniões o que é totalmente diferente de assumir essas opiniões. Assim desenvolvem o exoterismo do seu discurso para não ser odiosos e o esoterismo racional e da verdade aos seus pares. Falar nos dois regimes – no meio do popular infiltrar a verdade política, aliás é a necessidade eminente a comunicação da verdade ao político.

O valor político de alguém mede-se essencialmente pelo calibre do seu Ensino – TEACHING

Há métodos para conciliar os dois discursos. Por vezes ter-se-ia de ensinar, inclusive, doutrinas contrárias às próprias convicções.

Em que consiste então essa arte de escrever?

É uma fórmula apresentada em 1952: perseguição e a arte de escrever.

A perseguição entre a literatura e de ela obrigar todos os escritores com opiniões ortodoxas (rigorosas) a escrever entre as linhas.

Segundo Strauss, os grandes nomes não foram livres de se expressar livremente. Assim, desenvolveram o discurso edificante, popular, acessível e o discurso de significação diferente dirigida à elite e escrito nas entrelinhas!

O primeiro nível, o óbvio, é falso – é quase pretexto para o segundo;

O segundo nível, o obtuso, é o verdadeiro e o profundo – é neste sentido que reside a mensagem formal e verdade da obra – a leitura/escrita entre as linhas é a mais racional.

Isto é especialmente relevante em altura de censura ou perseguição política.

Há uma pluralidade de escritas e qualquer arte escrita está condicionada às contingências políticas, e históricas, do momento em que esse discurso é enunciado. Não há uma receita hermenêutica universal que descodifique qualquer discurso esotérico.

Ensaio – Como começar a estudar filosofia medieval

É necessário distinguir os ensinamentos exotéricos(1) e esotéricos.

1) Circunscreve-se à camada superficial do texto que todos são capazes de compreender.

A escrita entre as linhas veicula um sentido esotérico. De facto, Strauss considera que o ensino verdadeiro corresponde ao ensino secreto afectado por um valor de raridade. É melhor para a liberdade e segurança do filósofo protegendo as suas ideias dissidentes nos mecanismos esotéricos. A sociedade não está em condições de receber a frio a verdade filosófica e política! Ela é ingrata e mal recebida, e sobretudo em épocas em que há opiniões comuns protegidas e consagradas no seio do senso comum – épocas de censura ou perseguição!

Esta escrita esotérica não é só para proteger o filósofo do fanatismo, da ignorância e da não-tolerância da sociedade, mas também para proteger a própria sociedade e a sua estabilidade social de modo a que a própria filosofia subsista, elita e ocultamente, no seio dessa sociedade.

Dada a sua natureza incómoda.

Antiguidade

A sociedade não reconhecia a filosofia. Tudo o que os filósofos faziam era defender essa filosofia. O ensino exotérico era necessário para proteger a filosofia, era a sua carcaça, o seu aspecto político – a filosofia descia à cidade e tornava-se visível. Era a filosofia política.

Se a filosofia se quer meter na política tem de explicar a utilidade da primeira. Deve saber justificar a filosofia aos cidadãos normais e isso implica justificar a filosofia numa forma de argumentação própria à opinião pública – utilizar a sua linguagem e falar através de opiniões.

Há coisas que não se percebem tais como elas são se não forem percebidas do ponto de vista do cidadão.

Há uma identidade entre a filosofia e esoterismo.

Todo o conhecimento político está envolto em opinião pública e por isso nunca é puro.

A mistura entre conhecimento político e opinião política – isto resulta na filosofia política. A substituição progressiva de segunda esfera pela primeira.

A maioria filosófica de tratar a política é a maneira popular de tratar a filosofia.

A filosofia política protege o filósofo, a sociedade e o próprio cultivo da filosofia livre.

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5-12-2007

A opinião é objecto do povo, o conhecimento é objecto da ciência!

Os dois tipos de ensino teorizado por Leo Strauss – o duplo ensino:

- Exotérico: há uma discriminação dos públicos!

a) a verdade racional (privilégio de uma pequena minoria);

b) a opinião comum;

- Esotérico: ruptura entre a filosofia e a cidade (onde a primeira perde o direito de cidadania)

A cidade recusa a filosofia. A partir da antiguidade, houve dificuldades ma comunicação da verdade filosófica. Não só estas verdades não eram acessíveis a todos como não eram queridos / aceites. Assim, nasce o ensino esotérico(1) da política.

1) Indirecta – no meio da comunicação exotérica (dissimulada)

A restrição da liberdade de expressão obriga a modos de comunicação oblíquos.

A filosofia ofende a cidade e os cidadãos. Sócrates é o exemplo trágico.

Assim, apesar de os filósofos aceitarem as opiniões do senso comum e de por vezes a comunicarem (com o fim último de comunicarem as suas ideias esotericamente), não as aceitavam ou muito menos acreditavam que foram verdade.

Sob um regime de censura ou ortodoxia(2 e 3), a comunicação da verdade é proibida ou limitada(4).

2) Direito, correcto;

3) Opinião;

4) Tem de se ultrapassar isto;

O filósofo quando trata da política na esfera tem de ter muito cuidado.

(ver pág. 24 de “Percussion and the art of writing”)

Trata-se do escrever ou comunicar entre as linhas que Strauss descobre da análise dos grandes filósofos políticos (o teaching).

2 ensinos:

a) O popular e edificante;

b) Aquele que é para gente preparada, veiculo e verdadeiro conhecimento;

Não são iguais em dignidade e interesse; têm significações diferentes e públicos diferentes.

Esta Arte de Escrever não tem, no entanto, uma forma universal. Spinoza escreveu de uma maneira no Tratado Teológico - Político da de Maquiavel no Príncipe.

Não se pode apresentar uma hermenêutica geral com uma gramática comum, pois são as próprias contingências políticas de cada momento a condicionar cada filósofo.

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Exotérico – demonstração, via lógica e racional (a retórica)!

Não é dada à parte, seleccionado para elites. É imiscuído no discurso exotérico!

Há uma discriminação dos públicos e não se pressupõe que todos são iguais e inteligentes. As pessoas são diferentes e temos de comunicar aos dois tipos com dois discursos mas apenas num único acto.

A última frase do Leviatão – um lugar comum que toda a gente sabe.

De acordo com Strauss, a escrita exotérica não só protege o filósofo dos fanatismos da sociedade mas também o protege da sociedade e da ordem política que lhe permite cultivar a filosofia e a liberdade de pensamento. (paradoxo [absurdo])

(pág. 17 e 18 – Idem)

O ensino esotérico era necessário para proteger a filosofia. Era o aspecto político da filosofia. Era a filosofia política. A fama pública de espremer a filosofia. Justificar a filosofia aos não filósofos e à comunidade política usando a sua linguagem.

A mais arquitectónica capacidade política (atill) é a da legislação – fazer boas leis. Tem de comunicar eficazmente esta capacidade aos cidadãos.

O filósofo é o árbitro por excelência das controvérsias políticas. Nesta medida, ele deve procurar um consenso nas cidades sobre qual o melhor regime, a melhor política, etc! A forma de argumentar não se deve dirigir aos filósofos enquanto tais (que não precisam) mas aos cidadãos enquanto tais.

- ensino filosófico ou retórico da política;

- é que o filósofo pensa e conceitos – mistura de opiniões com verdade-racional tendendo para as segundas;

Não há conhecimento político (verdadeiro) público que não esteja envolvido por conhecimento comum e político impuro.

A filosofia política terá sempre como objectivo o tomar da opinião em conhecimento (ainda que seja impossível de que lá saia verdadeiramente).

É disto tudo que nasce a expressão e o conceito de filosofia política. Não designa, não tanto, o assunto e a matéria; não designa, não tanto, o tratamento filosófico da política mas o inverso. Da esfera prática da opinião vai-se para a esfera contemplativa do conhecimento fora da Caverna das Sombras.

Filosofia política:

Aspecto político, prático e popular de algo que é contemplativo – a filosofia!

Webber(1) - a ciência política só descreve, não prescreve. Moralmente neutra e inata de valores.

1) Ética de da convicção; ética da responsabilização; positivismo

Mas na antiguidade, a filosofia política ou teoria política prescrevia (ditava) e culminava em juízo de valores e práticas. Era mesmo um requisito.

A partir de Maquiavel, a política tornou-se autónoma, independente da ética, o que antes não acontecia. Importa o resultado do técnico, os fins, não interessam os meios!

Na antiguidade qualquer regime deveria julgar, a ética estaria como fundo de decisão (Kant, apesar de moderno, defendia o mesmo no “Paz Perpétua”)

Está em questão uma distinção entre a concepção clássica(*) da política (ética) e a concepção moderna (neutra para Webber e autónoma para Maquiavel)

*) Global, tanto é teoria compreensiva, como é capacidade e saber fazer

O melhor regime político para um Estado pode não ser para outro. A democracia pode não ser livre em todos os lugares. Caso do Iraque?

Retórica – defesa pública da propriedade (interesse) privada. Não será?

Strauss inclina as “leis” de Aristóteles num capítulo sobre o Vinho. A moderação deve dominar o discurso da filosofia política. As sociedades tentam sempre atingir o pensamento.

O dogma da filosofia política moderna não é a virtude mas a liberdade. E porquê? Porque o grande problema do filósofo é exercer a liberdade de expressão sem ser controlado ou condicionado.

O filósofo político clássico tem um propósito prático de resolver, questões políticas e indicar o melhor regime e um propósito ainda maior da dupla protecção – da filosofia à sociedade e vice-versa!

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Os autores clássicos escreviam como liam. Os escritores cuidadosos são leitores cuidadosos e vice-versa!

Ibidem – como estudar o tratado político filosófico de Espinoza!

Nem sempre é regra que o filósofo político diga exactamente aquilo que pensa.

Tocqueville – A tirania da opinião pública(1)!

1) Da qual o filósofo deve respeitar as opiniões protegidas contornando-as falando como o povo e comunicando exotericamente (de forma comum).

“Vale mais uma não mão, do que duas no soutien!” E “Putas ao poder que as filhas já lá estão!” (Bento)

A hipocrisia(1) é a homenagem que o vício presta à virtude.

1) Etimologicamente (das origens) é uma pessoa indecisa

Escrúpulo – ter pena, que pondera e mede as consequências

A filosofia antiga por ser prática era ensinável e transmissível. Que estatuto filosófico advém daí? Esta comunicabilidade vem da Arte de Escrever praticada pelo filósofo político. Este ensino não deve ser dirigido a todos os Homens inteligentes mas apenas a todos os Homens honestos.

Tanto o esoterismo como a arte de escrever estão ligadas à desconfiança, ao descrédito da cidade na filosofia.

É já um pressuposto do filósofo político que certas verdades não podem ser expostas em público. Assim não é uma liberdade fundamental a investigação e a sua comunicação. Não era uma verdadeira sociedade liberal.

Qual a necessidade dos 2 ensinos?

O que sucede é que há públicos estúpidos/ignorantes e outros que compreendem. Há limites ou não para a educabilidade do povo? Há duas filosofias:

1) A da acessibilidade dos enciclopedistas e dos iluministas;

2) E a elitista rege-se em relação ao conhecimento, que a operar por conceitos acha-o um privilégio para alguns;

Mas como conhecimento e a opinião se misturam, o filósofo tem de fazer esta conciliação.

As segundas determinam uma ruptura entre a procura da verdade através da opinião e uma procura através da verdade.

Na América, o neo-conservadorismo descende de muitos discípulos de Leo Strauss.

- que tipo de vontade de poder tem o filósofo político? À minha maneira Mitchiana!

A democracia como governo das massas é impossível!

“O esoterismo fundamenta-se na crença de que entre a humanidade há uma minoria iluminada(2) e uma maioria ignorante.”

2) Capazes de experimentar e saborear a verdade em paz, aceitando-a, apreciando-a e procurando-a (diferentemente da maioria da cidade)

O preço do sábio de nunca mentir a si mesmo, é às vezes mentir aos outros todos.

Relacionar que com a Liberal Education forma-se uma elite numa sociedade de massas.

- Porque não dar a cada um o seu devido lugar? Não há uma concepção igualitária.

Esta forma de escrever não se dirige tanto aos sábios, que já não precisam dela, nem aos insensatos, que não as percebem mesmo, mas aos jovens capacitados e com potencialidade. È novamente uma questão de educação.

Pág.35 Ibidem

Qualquer bom livro de filosofia política é dedicado aos jovens, os verdadeiros livros exotéricos – discursos escritos e inscritos no amor da sabedoria transmite aos jovens (parte filosófica)

A educação é a resposta, por excelência, à questão política sempre presente de como reconciliar uma ordem que não seja opressão com reconciliar uma ordem que não seja opressão com uma liberdade que não seja licença (mesmo nas sociedades liberais).

Pág.37

Mas isto será necessário em época liberal de liberdade de expressão?

Não há segredos e tudo deve ser transparente; tudo deve ser público e publicado – dogma das sociedades políticas modernas.

Este texto de Strauss é um texto sobre a censura sofisticada da modernidade, sobre a liberdade de expressão sem limites (ainda que os tenha), sobre a forma de contornar isso.

A arte de escrever é uma IMUNIDADE PÚBLICA; é uma carcaça para quando o filósofo desce à terra.

Há uma luta entre a verdade racional do filósofo e a opinião da cidade.

(Ver origem etimológica da palavra censura!)

Mas a filosofia não existe sem a opinião e vice-versa.

Conclusão: menos educação e mais protecção ou vice-versa? A arte de escrever pressupõe um entrelaçamento das duas. Mas ele acabou por preferir a protecção(1). Houve claro uma intenção educativa.

1) Nota-se uma intuição educativa: de cada vez que quero educar tenho de me proteger e tenho de por uma linguagem da sociedade.

Concepção liberal da educação se reclama do ideal aristocrático antigo em que a protecção era importante.

12-12-2007

Divisão maniqueísta do mundo entre sábios e ignorantes (os vulgos).

Os sábios nunca devem mentir a si mesmo ou aos seus amigos ainda que isso implique mentir a toda a gente(1).

1) Sentido de concepção de educação de Leo Strauss

Carl Shmitt – pensador realista ou hobbesiano!

Thomas Hobbes tinha o sentido da dissimulação esotérica. As suas obras eram como “aberturas”.

Tudo isto advém da maneira de comunicar de diferentes pessoas. Esta arte de ler entre as linhas não reclama técnica mas uma prudência activa, uma paciência, uma arte, uma qualidade moral do leitor.

É mais fácil encriptar uma mensagem do que desencriptá-la.

Desproporção entre o filósofo/escritor e o sensor(2).

2) O que recebe a mensagem da Teoria Política e que lhe cabe avaliá-la como heterodoxa (herege/ateu) e corrupta para a cidade.

Não existiram, apesar de tudo, imprimidores e censores que também conseguem escrever e decifrar o esotérico(3)?

3) Não sei, mas nós escrevemos como lemos.

Não há uma inteligência do mal absoluto e o poder daquele que o persegue para a porta da arte de escrever e do esoterismo filosófico.

A necessária relação com a liberdade e as sociedades repressoras.

Mas esta arte não se tornaria absoluta com o iluminismo da comunicação social universal?

Fuocault, quando se candidatou a professor no collège de France, apresentou como lição inaugural, a obra do discurso” 1970.

Posições muito próximas das Leo Strauss.

Princípios externos da produção de discurso actuariam como princípios de exclusa(4)

4) Prodigiosa maquinaria destinada a excluir.

Mas também há procedimentos internos de rarefacção do discurso de forma a controlar o imprevisto – o autor, o comentário as disciplinas!

Pode sempre acontecer que se diga o verdadeiro numa exterioridade selvagem, mas há sempre um polícia discursiva.

A sujeição e o conteúdo do discurso. A questão da liberdade de expressão.

Esta lição serve para ver o reverso do que o iluminismo proclamou como a liberdade de expressão que efectivamente é muito limitada, nem que seja pelos próprios cerimoniais que presidem ao discurso.

Seria um erro se subestimássemos a “censura democrática” – expressão de Ignécio Ramonet (A tirania da Comunicação”

A palavra crítica é a grande palavra do século XVIII.

À crítica que se pretende racional sucede a mesma que se pretende moral.

“A arte de falar ao senso comum” António Bento

Jonh Locke – no inicio do século XVIII

- A censura nunca desapareceu, existe antes em forma refinada e subtil.

O que é afinal o Liberalismo?

A ideia de que não há alternativas ao liberalismo assenta mais num credo do que num conjunto de argumentos.

Se é verdade que todos s governos assentam na opinião, diz Jones Madison, não é menos verdade que a opinião de um indivíduo depende do conjunto(1) das outras opiniões que com ele coincidem.

1) A razão do Homem como o próprio Homem é tímida e cautelosa quando deixada sozinha e ganha força e proporção quando acompanhada por outras coincidentes.

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Mas voltemos à questão da perseguição!

A perseguição existirá de maneiras distintas e em graus diferentes nas sociedades democráticas onde os direitos democráticos são consagrados.

Na Idade Média havia três formas de resistir ao tirano (o conceito de tiranicídio era o grande tema da altura) segundo João de Sabisbira:

a) É lícito adular o tirano;

b) É lícito enganar o tirano (se se for capaz);

c) É lícito matar o tirano.

A ordem de colocar os verbos é já significativa da forma de resistir ao tirano.

Onde é que hoje vemos o tirano?

A regra democrática e maioritária da maioria, a omnipotência da maioria. Se 50% + 1 assim pensam temos de assim pensar.

Uma sociedade sem crime é uma sociedade tirânica que não discrimina a intenção da acção.

A teoria da civilização de Frend – os instintos agressivos tem uma origem sexual.

Então o caminho da civilização é a interiorização da violência, não só física mas psicológica.

- Sobre John Stuart Mill(1) – On the liberty (1959)

1) Qual é a consequência mais sujeita de perseguição jurídica e moral das opiniões(2)?

Clima de medo e opinião.

O sentimento mais explorado pelos políticos.

2) Anulam-se ou disfarçam-se as opiniões dissidentes. Vivemos numa atmosfera de mentira e má fé. Não somos queimados na inquisição mas podemos perder o emprego. Connosco, as opiniões hereges continuam a arder nos ciclos restritos dos sábios e estudiosos ainda que não elimine as maiorias.

O que mais há são os conformistas de lugares comuns ou oportunistas da verdade que dizem acreditar numa coisa, acreditando noutras.

Mas os mais prejudicados não são os hereges mas os que não o são, cujo desenvolvimento mental não é estimulado e atrofia o seu pensamento.

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O caso Maddie tornou-se num caso de estado

Clarence Mitchell foi chefe da BBC e era de uma variedade de motorização dos media dentro do gabinete do primeiro-ministro. Spin-doctor, feiticeiro dos media. Gestor de crimes comunicacionais. Até um psicólogo do rosto foi tido – chorar agora, depois não. Gestão científica das emoções. Abafar o escândalo.

O segredo é a dor de parto da publicidade! A necessidade de tudo ser tornado publico – o credo da transparência. Mas o reverso disto obriga à intransparência dos media. Por terem de dizer tudo, desenvolvem a lógica do secretismo – consequência das sociedades absolutamente mediatizadas. O poder de tornar visível que cave aos media exercitar, torna-se ele próprio invisível.

Observai o observador que está a ser observado. Quem vigia e quem vigia quem vigia.

Debuze – analisa a transposição das “sociedades disciplinares” (Foucault) – as das instituições tradicionais: Família, igreja, etc. – para as sociedades de controlo.

Segredo vem, etimologicamente, de secreção – há suores que nem os desodorizantes param.

Lua de Hensch